A gente lê

Aqui contamos para você qual é o livro que a gente anda carregando na mochila. (Porque, acima de tudo, nós do Shereland somos leitores)

A gente lê: Um Coração Ardente

coracao-ardente.jpg

Trata-se de uma reunião de dez contos de Lygia Fagundes Telles escritos entre 1950 a 1980. Eles estavam espalhados por aí até que a Companhia das Letras - que vem reeditando lindamente a obra da autora - agrupou-os em Um Coração Ardente em 2012.

O livro é tão lindo que me empolguei e decidi fazer algo diferente de uma resenha. Resumo cada conto em uma frase e uma citação.

Um Coração Ardente
Um homem mais velho recorda o primeiro amor por uma prostituta.

"Eu não tinha talento nem para a literatura e nem para a filosofia, nenhuma vocação para aqueles ofícios que me fascinavam, essa é a verdade, tinha um coração ardente, eis aí, tinha apenas um coração ardente."
Dezembro No Bairro
Um grupo de crianças faz de tudo para montar um presépio bacana.
"Sabíamos que eles eram pobres, mas assim desse jeito?"
O Dedo
Caminhando numa praia, a narradora encontra um dedo com um anel de esmeraldas enterrado na areia e especula sobre como ele foi parar ali.
"Podia ser ainda uma suicida, dessas que entram de roupa pelo mar adentro, o desespero é impaciente, ela mal teve tempo de encher os bolsos com pedras."
Biruta
Um garotinho órfão tem um cachorrinho arteiro, mas a família rica para quem ele trabalha está querendo dar um fim no bichinho.
"Muito tempo ele ficou ali ajoelhado, segurando a bola. Depois apertou-a fortemente contra o coração."
Emanuel
Uma moça quarentona e virgem resolve inventar para os amigos que arrumou um namorado, mas ninguém acredita nela.
"'A esperança é curva assim como uma asa', disse alguém. Melhor me deitar na planície mas quando dou acordo de mim já estou subindo a montanha, resfolegando e subindo."
As Cartas
Uma antiga colega de infância da narradora morre e deixa as cartas que havia trocado com o amante.
"agora eram as cartas que contraindo-se com estalidos secos pareciam rir"
O Noivo
Um homem é acordado de manhã às pressas para se vestir para o próprio casamento, só que não sabe quem é a noiva.
"- Até que ponto me comprometi?, repetiu a si mesmo sacudindo a cabeça que já começava a doer."
A Estrela Branca
Um cego é convidado para ser cobaia numa operação inédita que pode lhe trazer a visão novamente.
"Ergui a face para o céu, ergui a face mas os olhos... os olhos não obedeciam"
O Encontro
Em uma caminhada, uma mulher consegue prever com antecedência tudo o que vai acontecer.
"Nunca criatura alguma me pareceu tão desesperada, tão tranquilamente desesperada, se é que cabe tranquilidade no desespero"
As Cerejas
Uma menina vive no sítio com as tias e recebe visitas inesperados de parentes da cidade.
"Marcelo, Marcelo! chamei. E só meu coração ouviu." 

Meu projeto Lygia Fagundes Telles

Desde 2010, venho lendo a bibliografia da autora, seguindo a edição da Companhia das Letras. Atualmente, minha meta é ler um livro a cada semestre. 

Ciranda de Pedra -1954
Verão no Aquário - 1963

Antes do Baile Verde - 1970

As Meninas - 1973

Seminário dos Ratos - 1977

A Disciplina do Amor - 1980
As Horas Nuas - 1989

A Estrutura da Bolha de Sabão - 1991
A Noite Escura e Mais Eu - 1995
Invenção e Memória - 2000
Durante Aqueles Estranho Chá - 2002
Histórias de Mistério - 2010
Passaporte Para a China - 2011
O Segredo e Outras Histórias de Descoberta - 2012
Um Coração Ardente - 2012

Leia mais sobre Lygia Fagundes Telles aqui no Shereland:
No aniversário de Lygia Fagundes Telles, veja vídeo em que ela analisa a própria obra 
Dois contos sobre Carnaval 

Livros relacionados

Um Coração Ardente
Passaporte Para a China

Posts relacionados

Capitu traiu Bentinho? Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector opinam
A gente lê: Durante Aquele Estranho Chá + conselhos dos escritores à Lygia Fagundes Telles

Acompanhe o Shereland

Comentários

Ver comentários (0)

Deixe um comentário:

http://

Nenhum comentário. Seja o primeiro!

A gente lê: Praticamente Inofensiva

paticamente-inofensiva.jpg

Cheguei ao fim da "trilogia de cinco volumes" O Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams. Quem acompanha o Shereland sabe que venho lendo os livros da série desde março, intercalando com outras leituras. Mas se eu demorei três meses para concluir a coleção, o autor demorou 13 anos para produzi-la:  a primeira edição, O Guia do Mochileiro das Galáxias, foi lançada em 1979, e a última apenas em 1992.

Enfim, vamos ao  que interessa. Lembram que eu tinha dito que no quarto livro o protagonista Arthur Dent tinha encontrado uma namorada?  Pois é. Douglas Adams mudou de ideia e simplesmente sumiu com a moça neste livro. E aí três personagens da obra de estreia coexistem em histórias paralelas:

- Arthur está perdido por alguma galáxia até que encontra um planeta legal onde vira "fazedor de sanduíches";

- Ford Prefect tenta salvar o Guia do Mochileiro, que foi comprado por uma empresa chamada InfiniDim que "traiu o movimento" e só quer saber de lucrar;

- Trillian não está mais casada com o Zaphod Beeblebrox (como havia sido dito no quarto livro), mas é uma repórter ocupadérrima com uma filha cujo pai é uma grande surpresa :p 

No entanto, no planeta Terra, também existe uma Tricia jornalista frustrada desde que conheceu um alienígena de duas cabeças (Zaphod) numa festa e se recusou a partir numa nave espacial. É aí que a gente chega à grande tese do livro. O universo é cheio  de possibilidades. Quando fazemos uma escolha, a vida se desenrola a partir dali. Mas a escolha que a gente não fez também gera um novo mundo paralelo. 

Ou seja Trillian encontrou Zaphod que a fez uma proposta. O "sim" gerou a Trillian, o "não", a Tricia. E isso explica uma trama que tinha ficado em aberto no quarto volume: uma Terra foi destruída pelos vogons e outra não.

Vou ficando por aqui para não soltar nenhum spoiler. Ahhhh, só unzinho então. Elvis Presley faz participação especial!

 Coleção concluída e, ainda nesta semana, tentarei fazer um balanço.

Livros relacionados

O Guia do Mochileiro das Galáxias
O Restaurante do Fim do Universo
A Vida, o Universo e Tudo Mais
Até Mais, E Obrigado Pelos Peixes
Praticamente Inofensiva

Acompanhe o Shereland

Comentários

Ver comentários (0)

Deixe um comentário:

http://

Nenhum comentário. Seja o primeiro!

A gente lê: Morte Súbita

Minha última leitura foi Morte Súbita, de J. K. Rowling.

O livro conta a história de uma cidade pequena, logo após a morte de um conselheiro da cidade. A história foca nos desdobramentos dessa morte, o que afeta até pessoas não próximas ao ex-conselheiro. O título original é Casual Vacancy, referente à essa vaga que apareceu de repente, após a morte repentina.

j-k-rowling-com-livro-morte-subita.png

Ganhei esse livro há uns 6 meses, mas a história não foi cativando, e então acabava lendo outros. Achei o início bem cansativo, com muitos personagens não relacionados, e mudando de enfoque, e isso foi me perdendo (tanto que recomecei a ler ele de novo, após o primeiro capítulo). Acho que isso já foi me desanimando um pouco para ler.

Mas a história melhorou. A autora buscou dar uma animada, colocou conflitos, pais chulos, filhos rancorosos, conflitos de cidade pequena...
Em resumo, virou uma novela (mais curta, claro).
Mas o final é legal. Ele melhora, e no término, realmente fiquei empolgado para saber como ele termina.

Talvez eu esteja sendo bem crítico com esse livro, mas eu realmente esperava muito mais da autora de Harry Potter, e essas expectativas altas não foram correspondidas.

Se alguém já leu, e gostou bastante, escreve pra gente, e coloque os pontos positivos :)

Posts relacionados

Dumbledore é gay, e J.K. Rowling não está com paciência com quem constesta o fato

Acompanhe o Shereland

Comentários

Ver comentários (0)

Deixe um comentário:

http://

Nenhum comentário. Seja o primeiro!

A gente lê: História do Olho

historia-olho.jpgDo céu ao inferno: saí da leitura de Mary Poppins  diretamente para História do Olho, do francês Georges Bataille que costuma ser caracterizado como um escritor de literatura erótica.

Antes que você comece a esboçar um sorrisinho, juro que cheguei a esse livro como uma indicação do curso Os Mitos da Narrativa, ministrado pela editora Vanessa Ferrari.

A adaptação de Minha Mãe

A verdade é que eu já tinha entrado em contato com o autor por intermédio do filme Minha Mãe (o primeiro longa do diretor Christophe Honoré) que é uma adaptação do livro homônimo de Bataille.

Acontece que eu assisti ao filme pela primeira vez e achei, bem... esquisito. Desde então, devo ter visto mais duas vezes, não porque eu goste da obra, mas para tentar entendê-la. Gente, chega uma partezinha ali quase no final que eu não pego.

E aí, na época, eu pensava que era uma falha da adaptação, que no momento de ter se transformado em filme algo tinha se perdido. Mas agora que de fato li Bataille começo a achar que o autor é um pouco hermético. E, sim, bemmmmm pesado. Mas pesado de verdade.

A história de História do Olho

Georges Bataille tinha um pai cego e paralítico. Durante parte da infância, viu muitas vezes esse homem sujo, fazendo suas necessidades fisiológicas por onde estivesse. Uma imagem que marcou o escritor foi que, enquanto fazia xixi, o pai revirava os olhos, deixando um globo branco à mostra. 

Anos depois, em 1928, o analista de Bataille sugere que ele escreva livremente, como se a escrita fosse uma forma para que ele expiasse seus traumas. E aí sobre o que ele fala? Sobre o olho, sobre o xixi, sobre o fedor do pai...Tudo isso acrescido à sacanagem. Tipo um Complexo de Édipo escatológico.

Resumindo de forma a evitar meu constrangimento. Dois adolescentes numa praia idílica começam a ter experiências bem livres. Nas palavras do próprio narrador:

"Eu não gostava daquilo a que se chama 'os prazeres da carne', justamente por serem insossos. Gostava de tudo o que era tido por 'sujo'."

E o olho? Bom, o olho aparece na narrativa por diversas formas: ora como um brinquedo, ora como comida, ora como objeto de desejo. Seria esse o olho da consciência? Talvez.

E aí as coisas vão rolando até que, nos últimos três capítulos o próprio Bataille, aí já como ele mesmo, aparece para explicar a ficção. 

Ele revela suas loucuras, fala do analista e até conta que uma de suas referências para escrever o livro é o filme O Cão de Andaluzia, de Luis Buñuel e Salvador Dalí (que já apareceu neste blog aqui ). E aí tudo fez sentido, minha gente: o livro é surrealista! Por isso a inverossimilhança, a sensação de tudo se passar em um sonho e as imagens tão fortes.

Eu não sei. Foi um livro bem diferente de tudo o que eu conhecia, creio que não gostei, mas gostei de ter lido. Quer arriscar? O estômago tem que estar firme e o moralismo de férias.

Ah, o livro está bem esgotado e não tem versão em e-book. O mais fácil é procurar em sebos.

Livros relacionados

História do Olho

Acompanhe o Shereland

Comentários

Ver comentários (0)

Deixe um comentário:

http://

Nenhum comentário. Seja o primeiro!

A gente lê: Mary Poppins

mary-poppins.jpgJamais pensei em ler Mary Poppins - sequer assisti ao filme -, no entanto a edição em português lançada este ano pela Cosac Naify me deixou obsessiva.

Pois é, a editora que faz os livros mais lindos atualmente no Brasil convocou o super Ronaldo Fraga para fazer a ilustração, porque a Cosac vê em Mary Poppins muita referência à moda. 

O estilista mineiro por sua vez pediu que bordadeiras de Itabira costurassem por cima de seus desenhos deixando as linhas soltas. O trabalho foi então fotografado e só aí impresso.

O resultado é de enlouquecer:

mary-poppins-bert.jpg

poppins-goodbye.jpg

Há ainda uma edição limitada cuja capa imita uma bolsa, tem alça e tudo. Mas aí já achei que era demasiado consumismo. Apesar de linda, custa quase cinquentinha a mais.

Babação de ovo à parte, vamos falar do livro?

Mary Poppins foi escrito em 1934 pela australiana radicada na Inglaterra P.L. Travers. 

No número 17 da Cherry Tree Lane, vivem os Banks com seus quatro filhos. Um dia, uma babá chega para botar ordem na bagunça trazendo consigo uma mala onde cabe tudo e mais muita fantasia. Ela fala com pássaros, é carregada pelo vento, tem um tio que ri tanto que flutua e ainda é prima de uma cobra.

Mas, curiosamente, Poppins é extremamente emburrada e rigorosa, sempre negando às crianças que a magia acontece. Tipo dá a volta ao mundo com os pequenos por intermédio de uma bússula encantada, mas diz que tudo não passou de um sonho segundos depois.

mary-poppins-contracapa.jpg

Os capítulos podem ser lidos de maneira independente e, admitirei, fiquei triste com a chegada do último (ou do vento oeste, se é que me entendem ;] ).

Existem mais cinco volumes lançados entre a década de 30 e 80 que continuam a história. Li ainda que a autora tinha a intenção de escrever o derradeiro Mary Poppins Goodbye, mas os leitores a convenceram a deixar a personagem viver para sempre.

A obra faz parte da Era de Ouro da literatura infantil inglesa, época em que surgiram outros sucessos como Alice No País das Maravilhas (falamos sobre aqui ) e Peter Pan. Em 1964, virou um filme da Disney que tentarei ver para fazer um post comparativo aqui no Shere.

Leia mais sobre Mary Poppins:
'Obrigado pelos peixes'. Douglas Adams teria homenageado Mary Poppins? 

Livros relacionados

Mary Poppins

Posts relacionados

Melhores frases de Mary Poppins, de P. L. Travers
Disney anuncia continuação de Mary Poppins
Processo de produção dos lindos livros da Cosac Naify

Acompanhe o Shereland

Comentários

Ver comentários (0)

Deixe um comentário:

http://

Nenhum comentário. Seja o primeiro!