A gente lê: o livro hipocondríaco Micróbios, de Diego Vecchio

A gente lê: o livro hipocondríaco Micróbios, de Diego Vecchio

Minha bisavó Lucila costumava dizer que quem estuda muito acaba ficando pinéu. Foi praticamente essa crença que Diego Vecchio seguiu para criar Micróbios.

São nove contos de cerca de vinte páginas. Cada um se passa num lugar do mundo e mostra um personagem com uma doença diversa: tem a moça que, de tanto passar horas perto de uma lareira escrevendo estórias infantis, contrai uma tuberculose; tem o moço que vai para Oxford estudar literatura e começa a sentir formigas desparafusando seu cérebro; tem a botânica que começa a ouvir flores conspirando contra a humanidade... Enfim, doideira para mais de metro.

Segundo Diego, a ideia de Micróbios surgiu depois dele ter lido A Saúde dos Homens das Letras, uma obra do século XVIII, em que o médico Samuel Tisset associa as péssimas condições dos escritores da época (que trabalhavam famintos, curvados por horas a fio em cômodos úmidos) com o desenvolvimento de enfermidades comuns. O assunto parece mórbido, mas é bem atraente para Diego Vecchio, que se assume hipocondríaco.

Em entrevista ao Estadão neste ano, ele confessou que escreveu Micróbios acompanhado de um dicionário de medicina, e acho que essa informação vai fazer você acender um alerta na sua cabeça pensando que o texto é cheio de termos técnicos. Bom, sim, o texto tem termos técnicos, mas garanto que isso não é um problema talvez por causa de algo que eu ainda não contei aqui. Diego é argentino (apesar de viver em Paris desde os anos 90), o que siginifica que existe uma influência de Jorge Luis Borges pairando sobre ele. Isso mesmo, o realismo fantástico é forte e deixa os contos até divertidos. 

Por outro lado - e aqui é a minha opinião exclusiva - achei que o excesso de imaginação e absurdo muitas vezes serviu para maquiar um pouco a falta de narrativa. Vou exemplificar, mas com um spoiler. Tem um conto com gêmeas siamesas como protagonistas. Durante parte da história, fiquei super interessada nos problemas éticos que surgiam na vida das irmãs: se uma cometeu um crime, as duas pagam ou as duas ficam inocentes? Se se evenenam de propósito qual paga o pato? Até que elas engravidam e nasce um bebê. Legal, achei que a discussão seria sobre a maternidade compartilhada, mas eis que Diego decidiu esquecer das siamesas para focar num bebê que encolheu até sumir. Pra quê?

Enfim, desconsiderando uma e outra coisinha, é um livro interessante, curto e simples, mas que não mudou minha vida.

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