A gente lê

Aqui contamos para você qual é o livro que a gente anda carregando na mochila. (Porque, acima de tudo, nós do Shereland somos leitores)

A gente lê: Feliz Ano Velho

Feliz Ano Velho é uma biografia de Marcelo Rubens Paiva. Esse homem abaixo:

Já deu pra perceber que ele é cadeirante, mas nem sempre foi, e é aí que surge a história.

Tudo começa com um jovem, universitário, curtindo a vida loucamente. De repente, ele exagera e acaba fazendo uma besteira (não vou dar spoiler de como foi), que muda bastante sua vida. Fico com medo de falar totalmente, pois ele tinha uma vida bem boêmia com os amigos, e ouvi histórias de que ele ainda continua se divertindo bem. Mas não é exatamente esse o foco do livro.

A narração acontece basicamente durante o acidente e a recuperação. Conta como aconteceu, o impacto de não mexer os membros, estar por meses no hospital, o medo de não se recuperar, suicídio, melhorar, amigos, política (ele era filho de político), um monte de coisa. E nesse monte de coisa que ele expande a história, relembrando mais outras histórias passadas.

Sim, é bastante coisa. Mas não achei a história nada cansativa. Não é um texto repetitivo chato. Ele consegue te fazer empatizar com a situação do autor. Dos problemas dos cadeirantes, e ainda coloca muita história engraçada no meio. Algo que achei super legal, é que ele mesmo quem narra, e de uma forma bem desbocada, ou seja, você vai encontrar bastante besteira nesse livro.

Gostei bastante. A sugestão de leitura veio da Gabriela, que viu esse livro aqui do armário de casa (é bem antigo, provavelmente dos meus pais). Quem quiser, só pedir emprestado. É um que recomendo.

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A gente lê: Eu, Christiane F., A Vida Apesar de Tudo

christiane-f-vida-apesar-de-tudo.jpgEsses dias, cometi a maior injustiça literária da minha vida: excluí Eu, Christiane F., 13 anos, Drogada e Prostituída da lista dos dez livros que marcaram a minha vida (desafio que surgiu no Facebook e sobre o qual já comentei aqui).

Gente, Christiane F. me alucinou quando eu tinha 14 anos e, certamente, me tornou a leitora que sou!

Enfim, semanas após esse meu deslize, minha mãe chegou com Eu, Christiane F., A Vida Apesar de Tudo. Isso mesmo, 35 anos depois de ter virado um mito, Christiane Felscherinow juntou-se com a jornalista Sonja Vukovic para contar tudo o que lhe aconteceu desde então.

Vamos recapitular, porque sei que o povo mais novo não sabe sobre o que estou falando...

Nos anos 80, a alemã Christiane F. chocou o mundo ao contar detalhes sobre o que rolava nas estações de metrô berlinenses. Com uma família desestruturada, a moça começou a usar drogas muito jovem e, aos 13, já era viciada em heroína e se prostituía vez ou outra para arranjar grana. Após angustiantes procedimentos para se desintoxicar, ela terminou o livro limpa, vivendo no interior com a avó.

Inevitavelmente, muita gente passou esse tempo todo se perguntando o que tinha sido feito de Christiane F.. E é aí que entra essa nova biografia lançada neste ano 

O que posso adiantar é que não, Christiane F. não se "regenerou".

Pelo contrário, vive de direitos autorais e ganhou muita fama, chegando a ir para Hollywood, ser convidada a shows de seu ídolo adolescente David Bowie (que é descrito por ela como blasé), usar drogas com os caras do ACDC, enfim... Vida loka total.

Em 1985, foi presa por dez meses por porte de drogas e afirma que essa foi a fase em que mais se sentiu mais livre na vida. Pois é...

Dez anos depois, teve um filho, diz que cuidou dele muito bem até que, em circunstâncias estranhas, perdeu a guarda dele. É exatamente nesse trecho que comecei a desconfiar sobre os motivos que levaram a moça a voltar a se expor, pois, até então, ela reclama muita da maldição que o primeiro best-seller lhe trouxe. Para vocês terem uma ideia, ela precisou pedir que o filho fosse dispensado da aula sobre Christiane F.. 

O que eu percebi foi um tom defensivo, como se Christiane estivesse querendo dar a sua versão - que não sei se real - de fatos explorados incansavelmente pela mídia alemã. Justo, não acham? 

E aí, nos últimos capítulos, a jornalista Sonja dá um golpe de mestre. Em um trecho totalmente deslocado, Christiane aparece dizendo o quanto é perseguida por "eles". Quem são eles, não dá para saber, mas senti que isso foi a coautora tentando nos alertar que a lendária garota de 13 anos não está tão sã assim.

Já falei demais. Agora fica por conta de vocês ler para crer ;)

Termino com uma foto da Christiane gatinha no auge da fama e a atual Christiane, aos 51 anos.

christiane-f-antes-depois.jpg

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A gente lê: Pergunte ao Pó


pergunte-ao-po.jpgQuando me viu lendo On The Road, de Jack Kerouac, meu chefe me recomendou Pergunte ao Pó, de John Fante. Pois bem, procurei pelo bendito por três anos, até que finalmente o encontrei na Bienal 2014.

Valeu a espera.

O livro é protagonizado e narrado por Arturo Bandini, um garoto de vinte e poucos que conseguiu publicar um - apenas um - conto chamado O Cachorrinho Riu e, com isso, achou que era o maior escritor de todos os tempos. O rapaz muda-se do Colorado para Los Angeles acreditando que iria decolar, só que o tempo passa e ele não consegue sair do lugar.

Quando a narrativa começa, o cara está passando fome, devendo aluguel e sofrendo um bloqueio criativo que, acredita o pretenso autor, acontece em decorrência da falta de experiências - inclusive amorosas.

Bandini, como tantos personagens da literatura americana (de Sal Paradise a Holden Caulfield), faz nada e passa o dia todo vagando, gastando o resto do dinheiro e fantasiando sobre a carreira de sucesso que um dia terá. São trechos sublimes. Durante a narrativa, muitas vezes, Arturo Bandini pula para o seu mundo imaginário e cabe a nós, leitores, sermos espertos o suficientes para não cair na lábia dele.

Para sentirem como esse narrador é escorregadio, leia esse trecho em que ele tenta nos convencer que é um homem destemido:

"Apavorado por lugares altos também e por sangue e por terremotos; fora isso, bastante corajoso, excetuando a morte, exceto o medo de que eu vá gritar numa multidão, exceto o medo de apendicite, exceto o medo de problemas cardíacos, a tal ponto que, sentado no seu quarto segurando o relógio e apertando a veia jugular, contando as batidas do coração, ouvindo o ronrom e o zunzum do seu estômago. Fora isso, bastante corajoso"
Eis que, depois de estarmos bem apresentados ao protagonista, este vai conhecer Camilla.

Sim, é uma história de amor (e daqueles não correspondidos), mas, tão importante quanto o romance é a questão da identidade de Camilla. O fato da moça ser mexicana (e, portanto, inferior na cabeça de um americano descendente de italianos) faz com que Bandini tente submetê-la. Mas, no fim, é ele quem acaba dobrando-se, já que Camilla não o ama.

"Da areia e do cacto, nós, americanos, havíamos esculpido o império. O povo de Camilla tivera a sua chance. Fracassou. Nós, americanos, tínhamos efetuado o milagre. Graças a Deus por meu país. Graças a deus, eu nascera americano!"
Fundamental também é a aridez de Los Angeles. O pó daquela terra ajuda a construir um cenário geográfico e humano de desânimo. 
"Rostos drenados de sangue, rostos tensos, preocupados, perdidos. Rostos como flores arrancadas de suas raízes e enfiadas num vaso bonito"

Bom, fato é que essa obra me devastou, mas mais não posso contar em respeito à minha política de não gerar spoilers.

Ah, e se você tiver a sorte de encontrar essa edição da José Olympio Editora por aí, poderá ler um prefácio do queridíssimo Charles Bukowski, que atribui a Pergunte ao Pó uma das grandes influências de sua vida.

Cadastre-se no Shereland e coloque Pergunte o Pó na sua lista de livros para ler em 2015 ;) 

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A gente lê: a série O Mochileiro das Galáxias

De novo? Mas já vimos esse post antes no Shereland (por sinal, O Guia do Mochileiro das Galáxias; O Restaurante do Fim do Universo; A Vida, O Universo e Tudo MaisAté Mais, E Obrigado Pelos Peixes  e Praticamente Inofensiva ). Mas agora é minha vez de falar o que achei.

Eu tinha bastante vontade de ler. Achei o filme legal, engraçado, e esperava o mesmo (ou mais) do livro. Sou de tecnologia, e o livro também. Deve ter um monte de coisa legal e engraçada. Bom, vou começar do começo, falando do primeiro livro.

Para quem já viu o filme, a história é parecida. Temos nosso terráqueo Arthur Dent, vivendo "normalmente", defendendo sua residência (sua casa ia ser demolida). Quando vem seu amigo Ford Prefect e age inusitadamente para tirá-lo de lá (é uma narração super engraçada, em que o empreiteiro é cordialmente deitado para defender a casa). Mas tirá-lo de onde? Da sua casa? Nãããão! Ele é tirado da Terra, que seria "demolida". E então começam as aventuras. Eles viajam, conhecem coisas novas, se perguntam sobre o universo, e isso de forma pouco convencional e super engraçada.

Nossa. Mas isso é apenas o primeiro. O resto deve ser divertidíssimo.

Nããããããão! Sério, eu nunca me arrependi tanto de uma leitura. Eu estava empolgadíssimo para continuar nas aventuras. Mas achei uma das histórias mais descontinuada que li. Se bem que eu não chamaria tanto de história, pois o autor viaja muito, então imagino isso mais como um seriado. Tem muita coisa não respondida. Muda o rumo de um capítulo para o outro. Personagens importantes somem. A Terra reaparece sem explicação.

Eu deveria ter tido o bom senso de parar no segundo livro mesmo, mas fiquei curioso para o grande final. Pois é, mas não tem um grande final. É um imenso seriado que não achei sentido.

Não vou ser injusto também. Tem bastante coisa engraçadinha nos outros. Mas tem muita viagem cansativa.

Se eu for dar uma sugestão, fiquem no filme. Ele é divertido, e vai ser mais rápido.

Leia mais:
'Obrigado pelos peixes'. Douglas Adams teria homenageado Mary Poppins? 

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A gente lê: Junky

Nunca tinha visto um exemplar de Junky, de William S. Burroughs, nem pela internet, até que encontrei essa edição coloridíssima no estande da Companhia das Letras na Bienal. Foi o primeiro livro que comprei no evento este ano.

junky.gifComo já conhecia um pouquinho o autor (li E os Hipopótamos Foram Cozidos em Seus Tanques), já tinha uma base do que poderia esperar: uma autobiografia acelerada sobre um cotidiano louco. E assim foi.

Em Junky, Burroughs, talvez o mais junky dos escritores beatniks, conta como se viciou em junk - drogas pesadas. Incomodou-se com a quantidade de vezes que a palavra 'junky' apareceu no meu texto? Vá se acostumando, pois Junky, o livro, é isso mesmo.

O começo da obra é também (para mim) o auge. Narrando sua perturbada infância, o autor solta pérolas como:

"Junto da outras crianças eu ficava tímido, com medo de violências físicas. Tinha uma lésbica mirim muito agressiva que puxava meu cabelo tão logo me via. Eu bem que gostaria de soltar a cara dela nesse mesmo instante, mas, anos atrás, ela caiu do cavalo e quebrou o pescoço".
O trecho sobre a juventude é também rápido e brilhante, com leves menções sobre a homossexualidade e o período em que Burroughs passou numa clínica psiquiátrica.
"Certa vez, entrei numas de Van Gogh e cortei um pedaço do dedo para impressionar uma pessoa em quem eu estava interessado na ocasião. Os médicos do hospício nunca tinham ouvido falar de Van Gogh. Me engaiolaram como esquizofrênico, acrescentando um diagnóstico de 'tipo paranoide', para justificar o fato de eu saber onde estava e quem era o presidente da República"

Essas passagens não dão conta nem da metade das curiosidades que cercam a vida desse ícone (algumas já contei em outro post), pois o enfoque mesmo será a partir do dia em que ele se aplica uma seringueta de morfina.

No resto do livro, o autor revela suas doses, a evolução do vício e o que é ser um viciado. No fim, entendi que junky não é um estilo de vida como é repetido de maneira tão glamourizada por aí. Junky é uma consequência de um estado físico que determinará todas as ações daquela pessoa. É viver em função de satisfazer uma necessidade química.

Apesar de ter achado o livro meio cansativo e circular, trata-se de um relato honesto que acaba gerando empatia. 

Leia mais sobre Burroughs:
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Leia mais sobre os beats:
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